Maratona de Auckland

Sabe aquele lugar que sempre quando você comenta, alguém já ouviu falar, tem boas referências etc. A Nova Zelândia é assim. Eu e Maria corremos a principal maratona do país e nos surpreendemos com a visita.

Embora Wellington seja a capital neozelandesa, Auckland é a maior cidade, concentra 1.400.000 habitantes, cerca de 31% da população do país. A cidade é a principal porta de entrada dos milhares de turistas que procuram o país anualmente em busca de belas paisagens e grandes aventuras. Ela também é palco da ASB Auckland Marathon, prova realizada no começo de novembro. Nós a escolhemos para darmos mais um passo na busca do nosso objetivo de correr uma maratona em cada continente. Aliado a isto, tiramos umas férias em seguida para explorar o país em busca de aventura, conhecimento, cultura, diversão... totalmente sem planos e reservas.

O processo de inscrição para a prova é simples, on-line, sem a necessidade de intermediários e espera por sorteios. Basta realizar o passo a passo no site (www.aucklandmarathon.co.nz) e finalizar com o cartão de crédito habilitado para compras no exterior. O valor gira em torno de 150 dólares neozelandeses.

Existem muitas alternativas de vôos saindo do Brasil, mas nos concentramos em duas, indo pelo Chile ou pelos EUA. No fim das contas preferimos ir pelos EUA para conhecer algumas cidades. De Los Angeles para Auckland pegamos um vôo da Air New Zealand, "excelente" companhia e que recomendo fortemente. Sem contratempos, a nossa viagem foi tranquila.

Fizemos a imigração, bem rápida e sem necessidade de visto. Fomos de ônibus até a estação central e a pé a um hotel próximo. Após nos acomodarmos, seguimos para a expo da maratona pegar nosso kit. O local ficava próximo a marina e a caminhada valeu a pena pela linda vista. A feira era modesta, se comparada às grandes maratonas, mas bem montada com stands de patrocinadores e parceiros. Havia muito material esportivo e merchandise da prova. Não ficamos muito tempo pois queríamos descansar.

No dia da prova, podíamos escolher ir de ônibus ou ferry boat. Escolhemos a travessia pela água, indicada por nosso amigo Tadeu Guglielmo, grande maraturista. Travessia rápida e decisão acertada. No entanto, fomos muito cedo e tivemos que esperar muito em Davonport, local de largada da prova. Como o clima estava muito frio, cerca de 5˚C, a nossa sorte foi ter levado um pequeno cobertor (obrigado Air New Zealand) para nos manter aquecidos.

Dada a largada, seguimos em um ritmo tranquilo pois sabíamos que logo no início havia uma subida íngreme. Dito e feito. Na primeira curva a esquerda, nos deparamos com uma rampa na Church Street. Engraçado a "Rua da Igreja" ser uma rampa daquelas. Acho que já comecei a rezar ali mesmo para conseguir vencer os 42 km que restavam. Vencido o primeiro desafio, seguimos confiantes e juntos até um pouco antes da Harbour Bridge no km 15. Maria precisou fazer um pitstop. Segui em um ritmo lento para que ela pudesse me alcançar mais não a vi mais.

Durante a travessia da ponte aumentei o ritmo. Pouco antes do km 21, a prova se dividia. A turma dos maratonistas virava a esquerda para cumprir o restante do percurso enquanto o pessoal da meia maratona terminava logo ali. Mais uma vez pensei, por que eu me meti mais uma vez nisso? Poderia terminar ali mesmo e evitar o sofrimento. Segui firme para a segunda metade da prova cujo percurso era de ida e volta pela Tamaki Drive, uma estrada litorânea com um visual muito bonito. Por volta do km 26 ou 27 os primeiros colocados passaram por mim já retornando. Gritei para eles algo do tipo "força", "continuem", mas na verdade era um jeito de me motivar também.

Pouco antes do retorno, no km 30, a minha sensação de cansaço era cada vez maior. Comecei a diminuir o ritmo para economizar energia e aos poucos minha corrida foi se transformando em uma caminhada rápida. Ao passar por um dos postos de hidratação resolvi parar e descansar um pouco antes de continuar. Lembrei que tinha gastado muita energia na subida da ponte e isso fatalmente contribuiu para o meu mau desempenho mais a frente. Péssima estratégia. Enfim, boa lição aprendida.

Deste posto de hidratação no km 32 até o fim da prova, foram 10 km de sofrimento. As pernas não queriam mais obedecer a mente. Fui intercalando corrida e caminhada. Maria passou por mim e me incentivou a voltar a correr em uma das minhas desistências. No entanto, aos poucos fui vendo ela se distanciar, sem forças para acompanhá-la.

Nos últimos 2 km, tive forças para voltar a correr, incentivado por um mexicano que também vinha lutando com câimbras por uns 10 km. Acabou que também o ajudei porque cruzamos a linha de chegada praticamente juntos. Fiz questão de cumprimentá-lo. Bastava deitar no gramado do belo parque no centro da cidade e receber uma massagem da Maria que estava radiante e feliz pelo resultado. Mais uma medalha no peito, sofrida, em uma cidade linda. Dois dias depois arrumamos as malas, alugamos um carro e pegamos a estrada em direção à Queenstown, mas esta é uma outra história.








Se estiver interessado em mais informações sobre a maratona, veja o vídeo abaixo ou acesse o site da prova: www.aucklandmarathon.co.nz