A previsão do tempo não me animou muito e indicava uma temperatura entre 1 a 8º C. Eu nunca havia corrido nessas condições, mas resolvi ir preparado para enfrentar este frio na beira do lago. Levei algumas camisetas de manga longa, umas bermudas e um casaco fino da Track & Field. Quando sai do aeroporto, fui muito bem recepcionado por um vento frio, na verdade, congelante. Nunca havia sentido tanto frio e apesar de bem agasalhado, comecei a pensar que as minhas bermudas tinham ido passear em vão. Naquelas condições, somente as pessoas acostumadas ao frio conseguem usar bermudas, mesmo assim com bermudas térmicas por baixo. Fui descobrir no outro dia que deveria comprar roupas do tipo "wind stopper". Comprei uma calça e resolvi arriscar com as minhas camisetas.
Equipado com touca, luvas, minha calça nova "wind stopper", uma camiseta de manga longa e o casaco da T&F, sai do hotel em direção ao lago num trote pra aquecer. A intenção era chegar no lago aquecido, mas o lago era mais perto do que esperava. Cheguei ainda sentindo o frio gelado, gelado demais. Fiz umas retas para aumentar a temperatura do meu corpo e o batimento cardíaco. Então, o treino começou a ficar mais agradável. Comecei a corrida em um ritmo forte, quando um americano (Andreas) se aproximou perguntando se aquela trilha dava a volta no lago. Respondi que sim, mas não estava bem certo, porque era a minha primeira vez lá também. Ele me agradeceu e apertou o ritmo se afastando alguns metros. Não sei porque, mas na hora fiquei perturbado com o fato dele ter me atrapalhado e pensei: "Esse americano me atrapalha e ainda me deixa pra trás. Isso não vai ficar barato".
Acelerei a frequência das passadas, usando os braços para me impulsionar. Logo cheguei nele. Quando ele percebeu que eu havia encostado tentou apertar o ritmo novamente, mas eu respondi a altura e comecei a deixá-lo pra trás. Naquele momento, me sentia bem aquecido. Então continuamos juntos e ficamos conversando sobre o caminho, o nosso ritmo e a feira (ele também estava lá para a exposição). Ao final dos 6,5 km da trilha nos despedimos. Apesar do nosso começo competitivo, fiquei com uma sensação boa de ter feito o meu primeiro treino na Europa, em um lugar magnífico e num ritmo bem forte no Lago Maschsee.
Ao voltar ao hotel, já havia me conformado que faria mais um treino no outro dia, quando ao consultar o programa da feira, vi que aconteceria uma corrida, a CeBIT RUN, no próprio parque de exposições em meio aos stands após o horário da feira. Notei que ainda era possível fazer a inscrição e não pensei duas vezes. O melhor era que o dinheiro arrecado nas inscrições (20 euros cada) iria para uma instituição de caridade. Outro ponto interessante era o percurso de 3,5 km que passava por dentro dos galpões da feira no meio dos stands das empresas. Um dos mais animados era o do pessoal do Google. Acho que já devia estar rolando um tradicional happy hour por lá. Entre um galpão e outro o vento congelante estava lá. Fiz 3 voltas no percurso, somando 10,5 km. Não forcei tanto, sai no fim do pelotão, mesmo assim fiquei contente com o tempo de 00:48:32, ficando em 70º colocado no geral masculino e 11º colocado na minha categoria.
Após a chegada, a recepção era tipicamente alemã, ou seja, a base de muito chopp. Todos estavam enchendo o pote exceto eu e alguns loucos que preferiram água e coca. Foi uma experiência marcante correr na maior feira de TI do mundo, em um evento beneficente, sob uma temperatura tão baixa. A primeira corrida na Europa não poderia ter sido melhor. No ano que vem espero voltar para a Maratona de Berlim. Será?
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