Estréia (parte 2)

Em junho de 2010 comecei meus trotes. Os primeiros treinos no Parque da Cidade foram difíceis. Aliás, o Parque da Cidade em Brasília é uma boa opção para a prática da corrida, contanto que sejam tomados certos cuidados. A infraestrutura é de razoável para ruim. Os banheiros são mal cuidados e após o escurecer o lugar se torna perigoso. Talvez seja um assunto a comentar mais nos próximos posts.

Voltando aos meus primeiros treinos. Com a ajuda de Maria iniciei os treinos. Ela já corria há um bom tempo, formou-se em educação física e me deu a confiança necessária para iniciar. Eu fazia a volta pequena do parque, que mede cerca de 4 km, intercalando 1 min de corrida e 4 min de caminhada. Aos poucos fui aumentando o tempo de corrida e diminuindo o de caminhada. A relação corrida/caminhada foi se invertendo: 2/3, 3/2, 4/1. Até o dia em que decidi correr os 4 km sem parar. A sensação de concluir o percurso foi sensacional, ao mesmo tempo, desgastante e exaustiva. Pensei que o meu coração fosse sair pela boca. Ao final, mal conseguia conversar devido a falta de ar. Não me lembro exatamente o tempo, mas devo ter demorado uns 30 min.

Meus treinos já duravam cerca de um mês quando Maria me chamou para assistir uma das corridas em que ela participaria. Era uma das etapas do Circuito das Estações Adidas. A princípio declinei. Até então, mantinha uma vida boêmia e hábitos mais noturnos. Acordar cedo para assistir uma corrida? Que programa de índio, pensei. A insistência dela foi tanta que acabei sendo convencido.

Na manhã de um domingo frio, lá estava eu. Que surpresa! Não fazia a mínima idéia de que as 7 h da manhã de um domingo tantas pessoas estavam acordadas pela simples motivação de correr. Era como se existisse outro mundo, composto de pessoas que eu nunca encontrara antes, rostos totalmente desconhecidos. A única coisa em comum era que todas elas pareciam muito felizes pelo fato de estarem ali. Na linha de chegada, percebia uma empolgação coletiva e contagiante. Algo realmente diferente acontecia e eu estava muito curioso para descobrir, mas ainda não me sentia preparado.

Alguns dias depois fui surpreendido por uma notícia. Maria havia feito minha inscrição em uma corrida. A DJ Run aconteceria no próximo fim de semana, dia 18/07/2010 no Parque da Cidade. A corrida tinha as distâncias de 5 e 10 km. Para os menos preparados (e eu me encaixava nesta categoria) haveria uma caminhada de 3 km. Infelizmente ou não, ela me inscreveu na corrida de 5 km e tentava me motivar dizendo que o Dado Villa-Lobos (guitarrista do Legião Urbana) iria tocar no final. Gosto muito do Legião, do Dado, Renato Russo, mas não era o suficiente para me fazer correr.



Já havia percorrido 4 km com bastante dificuldade, então aquele 1 km adicional parecia uma barreira intransponível. Uma espécie de Muralha da China que eu teria que ser capaz de transpor. E foi exatamente isso que aconteceu. No dia estava eu lá, com short, camiseta da corrida, tênis e boné. Maria levou sua irmã Naná para fazer companhia. Ela é uma daquelas que odeia correr, mas acredito que isso também mudará com o tempo. Eu e Naná largamos atrás no fim do pelotão para não atrapalhar os mais rápidos e fizemos o primeiro quilômetro juntos. Maria já deveria estar naquele momento quase no segundo. Senti-me bem e aumentei o ritmo (isso me custaria caro mais tarde). Ao chegar ao km 4, senti o efeito de estar acima do peso, do sol escaldante, da cerveja e da má alimentação do dia anterior, de tudo. Parecia que todos me passavam, idosos, crianças, gordinhos etc. Enfim, não desisti, fui persistente e percorri os 5 km na raça.

Jurei que nunca mais faria isso.

Mas eu já estava viciado pela corrida. Na verdade o tal vício, segundo estudos, é causado pela liberação pelo cérebro da serotonina (que tem efeito sedativo e calmante) e da endorfina (que provoca analgesia e bem-estar) durante a corrida. É o único vício que faz bem ao corpo.

De lá pra cá foram mais de 20 corridas nas distâncias de 5 e 10 km, duas São Silvestre, duas meias maratonas (Rio e Golden Four Asics Brasília) e algumas corridas de revezamento, entre elas a Volta do Lago Caixa 100K (uma das minhas favoritas). Irei aos poucos contando as memórias remanescentes dessas corridas.



E no próximo domingo (29/01), iremos enfrentar o nosso maior desafio até agora: Mountain Do Deserto do Atacama (Chile), percurso de 42 km. Esta corrida merecerá um capítulo a parte que será contada em breve.


Treinem.

Abraços.

"As pessoas às vezes zombam de quem corre todo dia, alegando que é uma tentativa desesperada de viver mais. Mas não acho que esse seja o motivo pelo qual a maioria corre. A maioria dos corredores corre não porque queira viver mais, mas porque quer viver a vida ao máximo". Haruki Murakami

3 comentários

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Maria Matos
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25 de janeiro de 2012 às 09:12 exclui

Foi a melhor descrição que já li...Correr significa TUDO isso que você escreveu.Ficou LINDO o texto.EU ESTOU MUITO,MUITO ORGULHOSA DE VOCÊ.Maria Matos

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25 de janeiro de 2012 às 23:34 exclui

Cunhado, o blog está show de bola! Muito bom mesmo!

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26 de janeiro de 2012 às 09:29 exclui

Esse vídeo é pra assistir umas 500 mil vezes... Tá chegando, tá chegando!

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